Sobre psicanálise selvagem, sexualidade e analistas de redes sociais
...ou tudo o que não fazer
“Há alguns dias, apareceu no meu consultório, acompanhada de uma amiga protetora, uma senhora mais velha que se queixava de estados de angústia [angstzustände]. Com seus 40 e tantos anos, bastante bem conservada, mas, ao que parecia, não havia fechado o ciclo de sua feminilidade. O motivo da irrupção daqueles estados tinha sido o divórcio de seu último marido; no entanto, a angústia, segundo ela informou, havia aumentado consideravelmente desde que ela havia se consultado com um jovem médico em seu bairro; pois ele havia detalhado para ela que a causa de sua angústia seria a sua necessidade sexual. Ela não conseguiria, segundo ele, suportar a falta de relação sexual com o marido, e, por isso, só havia três caminhos para a cura: voltar para o marido, ter um amante ou a satisfação solitária. Desde então ela estava convencida de que era incurável, pois não queria voltar para o marido, e os dois outros meios iam contra a sua moral e a sua religião. Mas ela viera até mim, porque o médico havia lhe dito que aquela era uma abordagem nova, que se devia a mim, e que ela viesse confirmar comigo pessoalmente que era assim.”
Esse é um excerto do primeiro parágrafo do texto Sobre a psicanálise selvagem (1910), que é uma primeira tentativa de Freud de institucionalização da prática psicanalítica, pois ele estava vivendo um momento em que a psicanálise estava saindo do círculo restrito dos discípulos e, consequentemente, passando por inúmeras interpretações equivocadas sobre a teoria.
Freud aproveita a situação embaraçosa em que o médico lhe colocou pra esclarecer alguns pontos sobre a teoria psicanalítica, fazendo uma provocação: É verdade que a psicanálise afirma que a insatisfação sexual seja a causa dos males nervosos. Mas será que ela não diz mais que isso?