"Cara eu ganho, coroa você perde" é a forma padrão dos argumentos acerca da suposta pseudocientificidade da psicanálise, como se o analista tivesse sempre razão.
A crítica diz que há um círculo vicioso acerca das confirmações das teses psicanalíticas pois, se o paciente concorda com a interpretação do analista, ela é verdade, mas se o paciente discorda, ela permanece verdadeira, e a discordância é explicada pela resistência ou denegação do paciente.
[…] o psicanalista tem sempre uma carta na manga, podendo evocar conceitos como repressão, desmentido, transferência negativa […]
— Christian Dunker
Essas críticas (e seu volume exorbitante de desconhecimento da teoria e da técnica) não são, de forma alguma, atuais. Já na época de Freud, Karl Kraus incendiava a cena cultural vienense com sua revista satírica Die Fackel [A tocha]; no número 256, publicado em junho de 1908, ele diz: “A ciência de outrora negava a sexualidade dos adultos. A nova pretende que o bebê já experimenta volúpia durante a defecação. A antiga visão era melhor: os interessados podiam, pelo menos, contradizê-la.”
A impossibilidade de crítica às teses psicanalíticas em razão de sua imediata assimilação a mecanismos de resistência psíquica foi muitas vezes o principal cavalo de batalha de muitos opositores. É verdade que Freud convida o analisando ao rebaixamento de sua própria atividade crítica, mas não em relação ao analista.
— Dunker
O curioso é que Freud discute minuciosamente essa crítica em "Construções na análise", artigo publicado em 1937. Ou seja, há mais de 80 anos dispomos de uma contundente refutação à conjectura crítica: